Cap 4. Pistas

Eu confesso que estava perdendo a paciência comigo mesma. E pior eu nem sabia por que. Aliás eu sabia, ele os olhos dele e seu mistério estavam começando a me deixar meio sem saída. Eu me sentei novamente e tentei pensar vendo a paisagem, mas nada. Como podia um homem não existir em lugar algum? Como simplesmente não havia digitais? Ou dados sobre ele? Se eu realmente queria sigilo sobre o assunto, eu não poderia jogá-lo na internet ou na TV pra esperar que alguém me dissesse algo. Aquela sucessão de portas se fechando na minha cabeça me deu vontade de chorar. TPM influenciando. Algo vibrando no bolso esquerdo da calça me tirou dos meus pensamentos problemáticos, porque será que sempre quando temos problemas sérios nas mãos e pensamos sobre ele, algo atrapalha o nosso pensamento?
– Tia Nora, como vai? – Atendi e tentei dissimular a minha voz, o que eu sabia que era em vão.
– Querida eu estou ótima! Mas o que há de errado com você? Caso novo eu suponho. Novo e muito mais complicado do que os outros já foram.
Tia Nora era a irmã mais velha da minha mãe, a única na verdade. Nós éramos muito próximas, desde quando eu tinha idade suficiente para saber o que isso significava. Só que depois da tragédia que se abateu na nossa família eu me isolei um pouco. Porém Tia Nora era extremamente jovial, otimista e mística. Sabia e descobria sempre tudo sobre mim, com apenas um olhar ou no caso a voz.
– Eu estou bem tia, realmente um caso novo que esta me tirando do sério... – Eu suspirei no final deixando transparecer todo meu dilema.
– Querida, você é inteligente, forte e nobre como sua mãe era! Sempre pode encontrar as respostas. Eu acredito em você.
Aquilo foi golpe baixo certo? A TPM estava ajudando muito e agora aquelas palavras, tive que pigarrear para responder.
– Tudo bem tia, eu vou resolver tudo.
– Posso passar aí para tomar um chá? – Eu fui obrigada a rir por alguns instantes.
– Olha tia o clima aqui não está dos bons e...
– Não se preocupe coisa de minutos... Aliás, lembrei que tenho que passar na floricultura ver as remessas de margaridas... Comprar adubos, reconstruir algumas plantas que estão sem nenhum traço de que são plantas de verdade. Vemos-nos outro dia querida! Tchau.
– Tcha... – Eu nem tive tempo de responder a ela. Estranho essa ligação da minha tia, geralmente ela demorava horas ao telefone tentando descobrir os últimos acontecimentos da minha obvia vida. E essa historia de reconstruir plantas que estão sem traços, como reconstruir... Claro! Claro! Minha tia! Eu comecei a rir sozinha na sala, como ela sabia?
Levantei tão rápido que quase derrubei objetos na mesa. Peguei meu blazer e o coldre axilar, durante a descida dei dois telefonemas, consegui algo diferente e um carro com dois policiais.
Entrei na cela e ele estava deitado de barriga pra cima.
– Olha eu aqui outra vez, estranho. – Ele se levantou um pouco surpreso com meu tom de voz.
– Bom dia investigadora! Posso saber o motivo de tanta animação?
– Que tal darmos um passeio? Ponha os sapatos. – Eu me virei de costas e já ia sair quando ele me chamou.
– Posso saber ao menos onde vamos? – Eu me virei de sorriso aberto.
– Vamos ao médico, fazer alguns exames de rotina.
Eu contive a vontade de dar uma gargalhada quando o sarcasmo abandonou o seu olhar.

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