Cap 3 - O pior começo

Era para ser mais um dia calmo na pacata Corregedoria Geral da Policia Federal, eu poderia agora mesmo estar tomando um refrigerante sentada na minha mesa, imaginando como seria o meu fim de semana. Praia? Não... Montanha? Nem pensar... Serra? Sim... Mas era para ser, isso traduz meu estado de humor e não ter dormido bem era só a ponta do iceberg. O assassino “João Ninguém” preso na cela especial no andar de baixo era a minha maior preocupação agora. Já haviam se passado mais de 24 horas desde que o encontramos no apartamento da tal vitima, outro “João Ninguém” que segundo os peritos e minhas investigações preliminares nada havia feito de ilícito. O problema é que não haviam informações sobre o assassino, e quando eu digo informações eu digo informações básicas como: Nome, idade, passado... Ele simplesmente não existia no Brasil e meu sexto sentido me dizia que provavelmente ele não existia em lugar algum. Porém isso não poderia ser possível.
Além desse terrível pressentimento eu estava preocupada com minha carreira, se eu terminasse esse caso com êxito era promoção na certa, mas se não conseguisse eu poderia dar adeus até ao meu cargo. Só que eu não deixaria isso acontecer, “eu já peguei um caso muito pior do que esse vai dar tudo certo, logo, logo este cara ia estar condenado, extraditado ou coisa do gênero”. Eu me convencia disso a cada segundo, em meus pensamentos. Três batidas gentis na porta fizeram meu estomago se contrair.
– Pode entrar.
As visitas incomuns não me animaram em nada, seus semblantes então...
– Agente Enya... – Eu me levantei para cumprimentar o Delegado Bento e a perita Diva que eu havia conhecido na cena do crime. Meu chefe entrou logo depois. Eles se sentaram a minha frente e eu esperei por más noticias.
– Então Diva o que podemos dizer do nosso estranho? – Eu esperei que ela dissesse algo, mas o Delegado Bento a interceptou.
– Agente Enya antes de falarmos sobre o assassino, tem um dado que descobrimos depois do teste feito na arma que encontramos na mão do tal cara, o suposto assassino. – Ok. Vamos por parte, eu disse que o dia estava ruim? E que ele iria piorar quando eles entraram na minha sala. Pois é. Se o delegado Bento pulou a parte do registro do assassino é por que não encontraram nada ainda. E se ele agora diz que existemais um dado certamente isso muda tudo e é claro que tem a ver com a possibilidade do cara ser realmente ou não o assassino. Diabos!
– Eu vou direto ao assunto agente Enya, a arma estava carregada. Completamente carregada, não havia sinais que revelassem que aquela arma fez qualquer disparo naquele dia. Eu conversei com os policiais que foram chamados pela própria vitima no dia do crime antes que ela viesse a óbito. Quando eles chegaram lá o suposto assassino estava com a arma na mão debruçado sobre o defunto. Eles o prenderam e nos chamaram, pois o meliante não falava português. Aparentemente. Os peritos não fizeram uma busca tão apurada no apartamento afinal o que achávamos ser o assassino estava na cena do crime.
Eu absorvi cada palavra que a perita disse e procurei pensar rápido e com clareza. Só que um lado inteiro da minha cabeça doía agora. O que era mais um mau sinal.
– Perita Diva eu gostaria que toda a sua equipe de peritos, os melhores que a senhora tiver sejam levados a cena do crime novamente e façam uma busca de raios-X. Eu preciso de tudo. Enquanto isso preciso que também continuem fazendo buscas sobre o nosso homem. Esse caso é de puro sigilo, não quero especulações da mídia e civis. Eu vou a cela do Sr. Ninguém tenho certeza que consigo tirar algo mais dele.
Dr Bento olhou para a perita Diva e para meu chefe que apenas assentiu sem nada declarar, ele sempre tinha confiança em mim.
Eu me despedi deles e desci as escadas como sempre, detestava elevadores. Quando tive acesso à cela ele estava lá deitado de costas, respiração uniforme, muito tranqüilo para um preso federal.
O policial abriu a cela e se posicionou do lado de fora junto com mais dois, eu peguei a cadeira mais próxima e me sentei perto da saída.
- Guten Tag*, investigadora. – Ele sabia que era eu, deve ter sentido meu perfume ou coisa parecida, definitivamente aquele homem poderia até não ser o assassino, mas ele era extremamente detalhista e perigoso. Ele se virou devagar, ou eu estava em câmera lenta outra vez. Eu vi seus olhos e reparei na sua barba por fazer. Era tudo que eu precisava um assassino galã!
– Só se for pra você, meu dia não começou muito bem... – Eu cruzei os braços tentando disfarçar minhas emoções.
– E o que eu posso fazer para melhorar o seu dia? ­– Sua voz ficou mais suave e grave. Ele estava tentando me seduzir? Aquilo era ridículo!
– A começar pode me dizer quem é você, e por que até agora não chamou um bom advogado para te soltar daqui? – Eu controlei minhas emoções mais uma vez e cerrei os dentes mesmo com a boca fechada.
 – Simples, a senhorita deve saber que minha arma nem sequer foi disparada, o que faz de mim uma testemunha no assassinato.
– Não, isso pode fazer de você um cúmplice. Sabe disso. – Eu fechei a boca e voltei a cerrar os dentes.
– Hummm... Eu prefiro me deitar e esperar as respostas dos peritos e investigadores. As instalações são bem confortáveis na verdade e sua presença me anima apesar da raiva crescente de hoje...
– Ok, já que você espera as respostas da minha equipe é melhor se sentar e não pegar no sono, afinal as respostas serão mais rápidas do que você imagina. Espero te ver preso logo. – Me levantei e puxei a cadeira.
- Ahh detesto te decepcionar Investigadora Enya, mas não se pode prender o que não existe.  E só mais uma coisa, não cerre os dentes, isso faz mal para a arcada dentária. – Tendo dito isso sorriu  com o canto da boca e virou-se novamente.


0 comentários: